Com o afunilamento da disputa presidencial, lideranças políticas e candidatos a diferentes cargos no Rio Grande do Sul estão contrariando orientações partidárias e ignorando postulantes ao Palácio do Planalto das suas próprias siglas para debandar rumo ao apoio a Jair Bolsonaro (PSL).
O maior prejudicado neste xadrez é Geraldo Alckmin (PSDB), solapado por generalizadas defecções no PP, legenda da sua vice Ana Amélia Lemos. Mas não para por aí: as perdas do tucano também são identificadas em outros partidos da sua coligação, como no PRB, no PSD e até mesmo no PSDB. Henrique Meirelles (MDB) também se ressente da migração de correligionários em direção ao capitão da reserva.
A situação é mais gritante no PP. Mesmo tendo Ana Amélia na chapa de Alckmin, a maioria absoluta das lideranças da legenda está em campanha aberta por Bolsonaro, seja nas agendas pelo interior do Estado ou nas redes sociais.
— Santinho dos nossos candidatos com o nome do Alckmin só vi os que foram feitos pela coligação. Quando é feito por nós, não tem nada sobre a eleição para presidente ou já vem com o número do Bolsonaro, como vários fizeram — relatou uma liderança do PP.
O deputado estadual Sérgio Turra, de família tradicional dentro da sigla, transparece publicamente sua preferência pelo candidato do PSL.
— Não podemos nos dissociar da vontade da população. Mais de 90% das nossas bases são de apoio ao Bolsonaro — assegura o parlamentar gaúcho.
Entre as lideranças do PP, ainda causa mal-estar a forma como a candidatura de Luiz Carlos Heinze ao Palácio Piratini foi sacada, após ele ter recebido mais de 1,1 mil votos de correligionários em pré-convenção, na jogada política que culminou na aliança com Eduardo Leite (PSDB) para o governo estadual e com a indicação de Ana Amélia ao posto de vice de Alckmin.
Mas, do inflamado interior gaúcho, notícias piores afetam o ex-governador de São Paulo. Até seus companheiros de partido estão pulando da barca. Contribuem para isso a estagnação do tucano nas pesquisas e a manifesta identificação de parcelas da população com Bolsonaro.
— O candidato do PSDB não decolou e não vai decolar. Eu não voto no Alckmin. Entre um ladrão (se referindo ao PT) e um louco, eu fico com o louco. Até porque sou médico e sei que o louco podemos tratar com remédio — projeta o deputado estadual Pedro Pereira (PSDB), um dos mais ferrenhos antipetistas da Assembleia.
Pereira diz que é "muito grande" a possibilidade de votar em Bolsonaro já no primeiro turno, mas ele analisa a hipótese de optar por Alvaro Dias (Pode), a quem declara apreço.
O PRB, outra sigla da coligação do tucano, também aponta adeptos do bolsonarismo entre os seus nomes mais fortes da atual conjuntura. É o caso do prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra, e da sua irmã Dalva Guerra, lançada candidata à Assembleia.
— Estou defendendo o voto nele (Bolsonaro) publicamente — conta Dalva.
Santinhos ignoram candidatura própria
Vice-governador gaúcho e um líderes do PSD — mais uma legenda coligada nacionalmente ao PSDB —, José Paulo Cairoli foi um dos primeiros a anunciar que não votará em Alckmin. Ele se aproximou da chapa do PSL ao recepcionar recentemente o general Hamilton Mourão, vice do capitão da reserva, no aeroporto Salgado Filho. Cairoli e Mourão mantêm conversas regulares e ensaiam aproximação para o segundo turno.
O MDB, cujo candidato à Presidência é Henrique Meirelles, tendo o ex-governador gaúcho Germano Rigotto como vice, está passando por processo semelhante, embora em menor escala.
Na sigla, até agora, ao menos publicamente, quem anunciou apoio a Bolsonaro foi a vereadora Comandante Nádia (MDB), postulante a deputada estadual.
— O Meirelles é o mais preparado tecnicamente, mas o voto precisa ser útil. Não vejo contradição em ser patriota neste momento — avalia Nádia.
Há outros quadros do partido que nutrem identificação com o candidato do PSL, seja pelo antipetismo ou pelo conservadorismo.
— Eu tenho um compromisso pessoal com o Germano Rigotto, é uma questão ética. Por isso, vou de Meirelles no primeiro turno. Mas não desconheço que, nas minhas redes sociais, 90% das pessoas que me seguem têm alinhamento com o Bolsonaro. Eu não tenho identidade total, ele teve algumas posições infelizes que o prejudicam até hoje, mas no segundo turno trabalharei com todas as minhas forças para derrotar o PT — diz Valter Nagelstein (MDB), presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e candidato a deputado federal.
Sem filiação partidária, o chefe da Casa Civil do governo de José Ivo Sartori (MDB), Cleber Benvegnú, fez publicação nas redes sociais para criticar o movimento #EleNão, criado por mulheres que se opõem a Bolsonaro.
— Votarei no Meirelles e no Rigotto, mas estarei ao lado de quem for contra o retorno do PT ao poder — diz Benvegnú, ressalvando que se trata de opinião pessoal e não do governo Sartori.
Pelo Interior, há emedebistas que discursam conforme a plateia. Dependendo do reduto, enaltecem Bolsonaro e esquecem Meirelles. Santinhos do deputado estadual Tiago Simon, por exemplo, estão em branco no espaço para indicação do candidato a presidente.
E o Novo, logo na sua primeira eleição, já enfrenta dificuldade de alinhamento de discurso entre seus grupos nacionais e regionais, um antigo problema dos partidos tradicionais. Apesar de dizer que votará em João Amoêdo (Novo) no primeiro turno da eleição presidencial, o candidato da sigla ao Piratini, Mateus Bandeira, gravou um vídeo pedindo voto aos eleitores de Bolsonaro e exaltando posicionamentos do líder do PSL. O incômodo foi tamanho que a direção nacional do Novo emitiu nota para classificar a mensagem de Bandeira como "inadequada".
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